segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

8º ENCONTRO
05/12
Este sábado foi destinado ao estudo do TP2. Havia pedido previamente a leitura deste conteúdo, por isso começamos com a exposição oral dos professores sobre o que haviam estudado. Individualmente cada um fez um resumo dos conteúdos lidos exemplificando, sempre que possível, para facilitar a compreensão dos demais, visto que cada um ficou responsável por duas unidades que foram escolhidas por mim no início do encontro. A discussão nos propiciou conhecer o que cada professor pensa e como trabalha em sala de aula, principalmente a questão da Gramática. Trocamos idéias e opiniões sobre como aprendemos a gramática na escola e como ensinamo-la aos nossos alunos atualmente.
Trabalhei as questões propostas na página 14 com o intuito de conhecer o conceito de gramática dos nossos professores.
Professora Lucia Garcia
A-Gramática é a ferramenta que eu utilizo para ajudar a adequar o texto do aluno à norma culta.
Ex: O meu aluno insiste em dizer “indentro”, e eu com o tempo, sutilmente mostro a ele o modo correto segundo a norma culta.
B- Sim, dou noções de gramática dependendo da série em que estou atuando.
“Na 5ª série, por exemplo, trabalho o substantivo” sem aquelas cobranças minuciosas. Tento trabalhar aquilo que me parece mais importante no momento para o aluno.
Professora Viviane Miranda
A- A gramática é um conjunto de regras estruturadas que permite ao falante organizar seus pensamentos de forma mais rígida, de acordo com o padrão estabelecido para a escrita e para o aprimoramento da oralidade.
B- Eu trabalho com a gramática de forma não imposta, obrigatória, mas sempre contextualizada, para que os alunos possam perceber o funcionamento interno e assim se expressarem com mais clareza, tanto na escrita como na fala.
Chegamos à conclusão que a gramática é necessária e deve ser ensinada, mas deve respeitar vários princípios para surtir o efeito desejado por nós professores. Desta maneira, concordamos que mais eficiente que o estudo das regras da gramática normativa puramente, seria trabalharmos a gramática das três formas: Gramática interna e o ensino produtivo, Gramática descritiva e o ensino reflexivo, e a Gramática normativa e o ensino prescritivo, um complementando o outro. Trabalhamos o texto “Gigolô das palavras” de Luis Fernando Veríssimo e vimos o Clip da música do Paralamas do Sucesso “Assaltaram a gramática”. Discutimos a crítica explícita, presente nas duas produções, em relação a prioridade da gramática normativa no ensino da Língua Portuguesa. Realizamos algumas tarefas da unidades 06,07 e terminamos o nosso encontro marcando para o dia 12/12 uma retomada do TP2 e a oficina 03 do mesmo.

Assaltaram a gramática

Assaltaram a gramática Meteram poesia onde devia e não devia
Assassinaram a lógica Lá vem o poeta com sua coroa de louro
Meteram poesia, na bagunça do dia-a-dia Agrião, pimentão, boldo
Seqüestraram a fonética O poeta é a pimenta do planeta. (Malagueta!)
Violaram a métrica
Paralamas do Sucesso

O gigolô das palavras

Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilha estiveram lá em casa numa mesma missão, designada por seu professor de Português: saber se eu considerava o estudo da Gramática indispensável para aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua. Cada grupo portava seu gravador cassete, certamente o instrumento vital da pedagogia moderna, e andava arrecadando opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia esta coluna, se descabelava diariamente com suas afrontas às leis da língua, e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até preparando, às pressas, minha defesa ("Culpa da revisão! Culpa da revisão !"). Mas os alunos desfizeram o equívoco antes que ele se criasse. Eles mesmos tinham escolhido os nomes a serem entrevistados. Vocês têm certeza que não pegaram o Veríssimo errado? Não. Então vamos em frente.
Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer "escrever claro" não é certo mas é claro, certo? O importante é comunicar. (E quando possível surpreender, iluminar, divertir, mover... Mas aí entramos na área do talento, que também não tem nada a ver com Gramática.)
A Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí é de interesse restrito a necrólogos e professores de Latim, gente em geral pouco comunicativa. Aquela sombria gravidade que a gente nota nas fotografias em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação pelo Português ainda estar vivo. Eles só estão esperando, fardados, que o Português morra para poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo, mas ele não informa nada, como a Gramática é a estrutura da língua mas sozinha não diz nada, não tem futuro. As múmias conversam entre si em Gramática pura.
Claro que eu não disse isso tudo para meus entrevistadores. E adverti que minha implicância com a Gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em Português. Mas - isso eu disse – vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão indispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que eu conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltrato-as, sem dúvida. E jamais me deixo dominar por elas. Não me meto na sua vida particular. Não me interessa seu passado, suas origens, sua família nem o que outros já fizeram com elas.
Se bem que não tenho o mínimo escrúpulo em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. As palavras, afinal, vivem na boca do povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo calão. Não merecem o mínimo respeito.
Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria a sua patroa! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção dos lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias pra saber quem é que manda.
VERÍSSIMO, Luis Fernando. Mais comédias para Ler na Escola. São Paulo: Objetiva, 2008.


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